quinta-feira, 12 de março de 2009

Santa Sé pede que se valorize atividade assistencial da mulher em casa

Santa Sé pede que se valorize atividade assistencial da mulher em casa

«Muitas vezes seu trabalho é desvalorizado», afirma Dom Migliore

NOVA YORK, terça-feira, 10 de março de 2009 (ZENIT.org).- A assistência aos doentes e dependentes é um trabalho realizado mais por mulheres no âmbito mundial e é injustamente desvalorizado: assim afirmou Dom Celestino Migliore, núncio apostólico e observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas.

Dom Migliore pronunciou um discurso no Conselho Econômico e Social na 53ª sessão da Comissão sobre o status da mulher.

Nele, mostrou a preocupação da Santa Sé pela «distribuição equitativa das responsabilidades assistenciais entre homens e mulheres».

Em particular, observou Dom Migliore, «cada vez é mais insustentável que continuem existindo posturas e lugares – também na assistência à saúde – em que as mulheres são discriminadas e sua contribuição à sociedade é desvalorizada só porque são mulheres».

Da mesma forma, «é inaceitável o recurso à pressão social e cultural para manter a desigualdade entre os sexos», acrescentou.

O prelado afirmou que considerar a assistência como um aspecto fundamental da vida humana tem «implicações profundas, especialmente para o reconhecimento da dignidade da mulher».

Esta, de fato, implica «programas, políticas e tomada de decisões, assim como posturas pessoais e compromisso pelo bem-estar de todos». Os seres humanos «não são só criaturas autônomas e iguais, mas também interdependentes e que, apesar de seu status social e o momento vital em que se encontrem, podem precisar de assistência».

A superação do dilema entre autonomia e dependência «favorece também uma nova visão da obra de assistência, que não pode atribuir-se só a certos grupos, como mulheres e imigrantes, mas deve ser compartilhada por homens e mulheres, tanto em casa como no setor público».

Concretamente, no caso dos portadores do HIV, o trabalho assistencial domiciliar dentro das famílias e das pequenas comunidades é o meio mais adequado para que «não se associe o estigma social» à doença.

Infelizmente – lamentou –, a assistência no domicílio quase não se reconhece, e muitos assistentes «enfrentam situações financeiras precárias», já que quase não recebem nada dos fundos que se destinam a combater esta doença.

O valor da assistência

«A assistência deveria converter-se em um aspecto fundamental do debate público e assumir uma relevância que seja capaz de modelar a vida pública, dando aos homens e às mulheres a capacidade de preocupar-se mais pelas necessidades dos demais», declarou.

Este trabalho, mal remunerado e estressante devido a seu escasso reconhecimento, está sendo levado a cabo mais por mulheres pobres e imigrantes. «Em sociedades caracterizadas por importantes transformações demográficas, por sistemas familiares, ocupacionais e assistenciais inadequados, as mulheres imigrantes respondem à demanda de assistência de crianças, doentes, idosos e deficientes graves».

Em muitas partes do mundo, este trabalho assistencial, sem regulação, em condições difíceis e com explorações de todo tipo, provoca que muitas mulheres que o realizam se encontrem em situação de vulnerabilidade e isolamento social.

Neste sentido, os governos «deveriam reconhecer que as instituições públicas estão sendo aliviadas de trabalho graças à assistência familiar e, portanto, deveriam adotar normas e leis que a protejam», também do ponto de vista migratório.

Entre outras iniciativas, Dom Migliore propõe que se dê uma formação profissional adequada a estas mulheres, em elementos de saúde, psicologia, higiene etc. «revalorizando sua inestimável atitude e evitando as situações de exploração».

O trabalho de assistência, concluiu o prelado, «é capaz de criar um processo de democratização da sociedade e de promover a consciência pública sobre a justiça social e efetiva, assim como a igualdade real entre homens e mulheres».

Nenhum comentário:

Postar um comentário